
Olá, minhas leitoras!
Estou muito feliz de inaugurar este espaço de escrita e troca com vocês! Antes de começar, pedi iluminação divina e coloquei a música Respect, da Aretha Franklin, porque, cá entre nós, não há nada mais respeitoso do que fazer valer os nossos direitos! E esse é exatamente o tema de hoje: Devo ou não devo cobrar judicialmente a pensão dos meus filhos?
Sempre que vejo uma mulher entrando no meu escritório para lutar pelos direitos dos filhos, sinto como se a trilha sonora de Aretha estivesse tocando ao fundo. E, mesmo assim, muitas vezes, quando falo que sou feminista, algumas pessoas se espantam.
Outro dia, um colega me aconselhou a procurar um professor para me ajudar em um projeto, mas de um jeito… digamos, peculiar: “Melhor procurar o professor Gil… Porque as feministas têm um olhar ‘diferente’ e revoltante sobre as coisas.” (se referindo as outras professoras). Perguntei o que ele queria dizer. Às vezes, as pessoas criam estereótipos sem nem perceber. Mas ele se limitou a reafirmar sua opinião. Tudo bem. Se exigir direitos em um mundo feito para privilegiar os homens parece uma ideia revoltante, então que assim seja. Mas vamos voltar ao que realmente importa: o meu olhar “diferente e revoltante” se manifesta no meu trabalho como advogada.
Ao longo dos últimos anos, já cuidei de uns 250 casos de mulheres que, além de trabalharem, cuidam da casa, da comida, da educação dos filhos e ainda têm que lidar com o ex-marido/ ex-companheiro reclamando de um valor irrisório de pensão (30% do salário mínimo, viu?).
Muitas mulheres ficam na dúvida se devem ou não cobrar o valor que é de direito das crianças, principalmente quando trabalham fora de casa e possuem renda própria (elas sentem que o filho não precisa, sabe? Ela aprendeu a dar conta de tudo sozinha).
Ou, muitas vezes, a tarefa de cobrar é árdua, exigindo coragem e esforço. Eu entendo, pode ser custoso e demandar tempo, mas ver o direito dos seus filhos garantido é sempre uma boa escolha. E quanto mais cuidado, melhor.
Do outro lado, quando esses homens chegam no escritório, a conversa é, em grande maioria, a mesma. Eles começam dizendo: “Eu sou um pai presente!”, e depois a história do “último domingo, eu levei meu filho na pracinha e ainda paguei um sorvete!” (Como se isso fosse “UAU, só pode ter um super poder de pai”). Se eu fico em silêncio (para não trazer meu olhar diferente, né?!), eles começam a trazer mais argumentos: “Doutora, eu quero pagar pensão, mas a coisa não está fácil… tem a outra família, o aluguel… e o desemprego…” Aaaaah, claro.
Mas eu juro que nunca vi um desses caras reclamar do preço dos alimentos, ele não sabe quanto está custando o quilo do café no supermercado hoje. O pior de tudo é quando ele solta a frase: “Mas eu sou um bom pai!” O mesmo cara que exerce a paternidade apenas nos momentos de lazer e ainda manda as roupas todas sujas para a mãe lavar na segunda-feira (quando busca no final de semana combinado).
Não é brincadeira, é quase uma novela das 21h da Globo– e eu só penso: cara, a mãe está bancando tudo sozinha, e você está brigando para não pagar o valor de uma compra semanal no supermercado. E aí, é claro, a resposta da justiça é sempre a mesma: vai ter que trabalhar, cara! (ainda bem).
Mas, no fundo, todo esse papo vai além do direito. É sobre crianças ter garantido seus direitos à alimentação e a vida digna. É sobre pai exercendo seu dever parental de forma responsável. E sobre nós, mulheres, conquistarmos o espaço que merecemos. Afinal, ainda existe muita gente por aí achando que um café quente, uma pedalada na cidade ou uma boa conversa entre amigas é luxo.
Por isso, quero transformar este espaço em algo mais: um refúgio, onde as mulheres podem, sim, pedir o que é justo, sem culpa. Onde podemos rir, compartilhar nossas histórias e aprender, sem medo de sermos rotuladas. Vamos conversar? Vamos juntas?
Deixo esse espaço aberto para vocês compartilharem suas dúvidas, histórias e experiências. Se você ainda está com uma pulguinha atrás da orelha sobre cobrar a pensão, ou qualquer outra dúvida, me manda a sua pergunta. Não tenham medo, aqui o espaço é de vocês!
Com carinho, Thalita
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