A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre a importação de café acendeu um sinal de alerta entre os produtores do Triângulo Mineiro, especialmente em Monte Carmelo, uma das maiores regiões cafeeiras do país.
A medida, que passa a ser válida a partir de 1º de agosto, promete gerar impactos significativos tanto no mercado externo quanto no planejamento interno dos cafeicultores.
Para o Diretor Superintendente da monteCCer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado de Monte Carmelo), Régis Damásio Salles, a situação é “economicamente inimaginável”. Segundo ele, a nova taxação representa mais uma “variável incontrolável”, semelhante às oscilações climáticas que já desafiam os produtores da região.
“Num primeiro momento está situação está confundindo a cabeça dos produtores. Eles possuem compromissos para esta safra e não sabem como será os possíveis impactos nos preços. O valor da saca de hoje pode ser bom. Contudo, se as taxas forem essas [50%] ou mudarem, ninguém garante como vai ficar. Como planejar com essa incerteza?”, afirma Salles.
Embora a cooperativa não realize exportações diretas, a tarifa americana pode afetar o volume de café da região que é escoado para o exterior por meio de exportadores parceiros.
Régis Salles explica que grande parte dos grãos de Monte Carmelo são utilizados em blends (mistura) com cafés de outras regiões, dificultando a medição exata do percentual exportado para os Estados Unidos. Ainda assim, ele é categórico: “Haverá comprometimento de contratos e negociações caso nada mude até o início de agosto.”
A medida dos EUA tem gerado reações em todo o setor cafeeiro nacional, e as cooperativas como a monteCCer seguem acompanhando de perto os desdobramentos, enquanto aguardam um posicionamento das autoridades brasileiras diante do impacto econômico que se aproxima.
Taxas podem forçar queda do preço do café no Brasil
Além do cenário internacional, existe também a possibilidade de reflexos no mercado interno. Com a possível redução das exportações, parte do café arábica pode acabar sendo redirecionado para abastecer o consumo nacional, o que pode levar a uma diminuição nos preços no Brasil.
“Dependendo de como isso for resolvido, existe uma pequena chance de sobrar café Arábica para atender o mercado interno”, declarou o superintendente da monteCcer.
A possibilidade é um alento para o consumidor, que viu o preço do café subir até 80% nas gôndolas dos supermercados.
Na contramão, o consumidor estadunidense pode sofrer com aumentos, como declarou Luiz Fernando dos Reis, superintendente comercial da Cooxupé, outra cooperativa que atua em Monte Carmelo e região.
“Quem realmente vai pagar essa conta é o próprio consumidor americano. No final das contas, quem compra o nosso café terá de repassar a tarifa no preço, tornando-o mais caro. Não vejo o mundo preparado para atender e suprir um possível desabastecimento do Brasil”, afirmou.